sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Grandes solilóquios do Teatro III

 William Shakespeare nasceu em Stratford-upon-Avon em 23 de abril de 1564 e morreu no mesmo lugar em 23 de abril de 1616. Henrique V é uma de suas peças históricas mais conhecidas. Encenada pela primeira vez em 1599, a ação centra-se nas batalhas de Harfleur e de Azincourt num dos conflitos que compõem a Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e trata de um dos personagens mais importantes da história da Inglaterra, o monarca Henrique V, que governou de 1413 a 1422, pacificando a Inglaterra e consolidando a monarquia. É um texto essencialmente nacionalista onde, a todo momento, o Rei agradece aos céus pelos triunfos. Este é o famoso discurso de Henrique V no Dia de São Crispino antes da batalha de Azincourt em pleno campo de batalha.


HENRIQUE
(HENRIQUE V DE WILLIAM SHAKESPEARE)
tradução de Beatriz Viégas-Faria

Quem é este que deseja tal coisa? Meu primo
Westmorland. Não, meu iluminado primo. Se estamos
marcados para morrer, somos perda suficiente para o
nosso país. Se marcados para viver, quanto menos homens,
maior fração de glória competirá cada um. Pelo amor de Deus,
eu lhe peço, não deseje nem um único homem a mais.
Por Júpiter, não tenho ganância de ouro, nem me importa
quantos comem às minhas custas. Não me entristece ver
outro homem vestindo meus trajes. Essas coisas exteriores
não habitam os meus desejos. Mas, se for pecado ter
ganância de honra, sou a alma mais pecadora aqui neste mundo
dos vivos. Não, meu primo, por minha fé, não peça por nem mais
um homem da Inglaterra. Por Deus, não quero repartir com mais
ninguém tão grande de honra, pois tenho grandes esperanças.
Ah, primo, não queiras um único inglês a mais! Em vez disso,
anuncie o seguinte: o homem que não tiver estômago para este
combate está livre para partir. Seu salvo-conduto será confeccionado,
e serão depositadas coroas francesas em sua bolsa para custear
a passagem. Não queremos morrer na companhia desse homem
que teme ter a sua pessoa morrendo conosco. Hoje é dia de São Crispino.
Aquele que sobreviver ao dia de hoje e voltar para casa são e salvo
ficará de ouvidos em pé sempre que este dia for mencionado e vai
inflamar-se só de ouvir falar em São Crispino. Aquele que testemunhar
o dia de hoje e viver até a velhice presenteará seus vizinhos todos os
anos com um banquete, sempre na véspera, e dirá “Amanhã é dia
de São Crispino”. Então ele vai arregaçar as mangas e mostrar
os ferimentos e dizer: “Estas cicatrizes são herança do dia de São Crispino”.
Os velhos se esquecem e, mesmo que ele tenha se esquecido de tudo,
lembrará, contando vantagem, dos feitos que perpetrou naquele dia.
Teremos então que os nossos nomes, na boca deste senhor idoso,
tão comuns quanto as palavras que ele usa no dia-a-dia, serão pronunciados:
o Rei Henrique, Bedford e Exeter, Warwick e Talboth, Salisbury e Gloucester,
e serão todos lembrados uma vez mais, nos brindes de suas taças transbordantes.
Esta história o bom homem há de ensinar ao filho, e não se passará um
único dia de Crispino Crispiano, de hoje, até quando o mundo acabar, sem
que sejamos lembrados. Nós, estes poucos; nós, um punhado de sortudos;
nós, um bando de irmãos… pois quem derrama o seu sangue junto comigo
passa a ser meu irmão. Pode ser homem de condição humilde; o dia de
hoje fará dele um nobre. E os nobres que ficaram na Inglaterra, que estão
agora em suas camas, irmão julgar-se amaldiçoados porque não estavam
aqui e vão se considerar homens de menor virilidade sempre que ouvirem
falar aquele que lutou conosco no dia de São Crispino.

Pedro Lago.

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