quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Leitura obrigatória

Torquato Pereira de Araújo Neto nasceu em Teresina, Piauí, no dia 9 de novembro de 1944. Veio como um cometa. Conheceu Gilberto Gil no colégio em Salvador, se mudou para o Rio e se tornou figura essencial na efervescência cultural dos anos 60. Explosivo, Torquato foi nome e porta-voz do Tropicalismo, da poesia Concreta e da música brasileira naquela época. Escrevia crítica de música para o Geléia Geral. Uma curiosidade: Torquato era fascinado por vampiros. Chegou a fazer um filme antologico chamado Nosferatu no Brasil. Torquato se suicidou em seu apartamento após a festa de seu aniversário de 28 anos, trancando-se na cozinha e abrindo o gás, o dia foi 10 de novembro de 1972. Este poema é uma obra prima.



EXPLICAÇÃO DO FATO PARTE II

Também tenho uma noite em mim tão escura
que nela me confundo e paro
e em adágio cantabile pronuncio
as palavras da nênia ao meu defunto,
perdido nele, o ar sombrio.
(Me reconheço nele e me apavoro)
Me reconheço nele,
não os olhos cerrados, a boca falando cheia,
as mãos cruzadas em definitivo estado, se enxergando,
mas um calor de cegueira que se exala dele
e pronto: ele sou eu,
peixe boi devolvido à praia, morto,
exposto à vigilância dos passantes.
Ali me enxergo, à força no caixão do mundo
sem arabescos e sem flores.
Tenho muito medo. 
Mas acordo e a máquina me engole.
E sou apenas um homem caminhando
e não encontro em minha vestimenta
bolsos para esconder as mãos, armas, que, mesmo frágeis,
me ameaçam.
Como não ter medo?
Uma noite escura sai de mim e vem descer aqui
sobre esta noite maior e sem fantasmas.
como não morrer de medo se esta noite é fera
e dentro dela eu também sou fera e me confundo nela e
ainda insisto?
Não é viável.
Nem eu mesmo sou viável, e como não? Não sou.
O que é viável não existe, passou há muito tempo
e eram manhãs e tardes e manhãs com sol e chuva
e eu menino.
eram manhãs e tardes e manhãs sem pernas
que escorriam em tardes e manhãs sem pernas
e eu sentado num tanque absurdamente posto no meio da rua,
menino sentado sem a preocupação da ida.

E era todo dia. 
Havia sol
e eu o sabia
sol: era de dia

Havia uma alegria
do tamanho do mundo
e era dia no mundo.

Havia uma rua
(debaixo dum dia)
e um tanque. 
Mas agora é noite até no sol.


Grande abraço!
:-)
 
Pedro Lago.

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Natália Parreiras [Redação, Edição, Assessoria de Imprensa, Parcerias e Co-produção do evento]
Educadora licenciada em Letras pela UFPE.
Tem três livros de poesia publicados e atualmente prepara o quarto e o quinto títulos.
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Tatiane Rangel [Idealização e fundação do Blog]
Formada em Comunicação Social/Jornalismo pela PUC-Rio.
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